sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Paraty, uma cidade fotogênica




A viagem

Data: 13 a 16/11/2014
Cidade: Paraty - RJ

Eu e Chris dificilmente repetimos uma cidade em nossas viagens. São tantas para se conhecer que a gente acha um desperdício voltar para uma já conhecida. Mas abrimos uma honrosa exceção à Paraty, que já havíamos visitado em 2009. Pegamos um abono no trabalho, e emendamos sexta, sábado e domingo por lá. Por uma coincidência absurda, descobrimos, ao voltar, que tínhamos visitado a cidade nos exatos mesmos dias de novembro, 14 e 15, há exatos cinco anos. E sabem o que isto quer dizer? Nada. Não quer dizer nadinha mesmo.

 Nossa viagem de ida foi bem complicada. Saímos de São José dos Campos no fim da tarde, e decidimos ir pela Rodovia Oswaldo Cruz. Acontece que choveu bastante. Durante toda a viagem. Se a Oswaldo Cruz já é chata, de noite é mais ainda, e "de noite + chuva" formam um combo daqueles. Muita tensão naquela serrinha maledeta, com pista molhada. Mas chegamos ao fim da serra intactos. Mais uma boa dose de BR-101, em um trecho, entre Ubatuba e Paraty, em que as faixas na pista simplesmente desaparecem à noite. Mais tensão. E muita chuva. Já tínhamos programado de jantar no centro naquela noite, e cheguei a pensar que não ia rolar. Mas, magicamente, a chuva parou assim que nos aproximamos da cidade.

O Festival Folia Gastronômica

Durante o período de nossa estadia estava acontecendo por lá a Folia Gastronômica, um festival que já tinha acontecido na cidade de 2003 a 2008, depois teve uma pausa, e voltou a acontecer agora em 2014. Com a presença de chefs importantes, aulas de degustação, participação da comunidade, o evento quase nos fez mudar a data de nossa viagem, já que achávamos que a cidade estaria muito cheia. Ainda bem que não o fizemos, porque o evento se mostrou salvador nos períodos chuvosos de nossa visita.

Fê ainda se ajeitando depois de correr após programar a máquina

Participamos de três aulas de degustação grátis: cachaças, cafés e cerveja. A lição básica de todas as três é: no nosso dia a dia a gente só toma cachaça porcaria, café de merda e cerveja lixo. Mas continuaremos tomando, já que não somos ricos pra comprar só coisa boa. Brincadeiras à parte, as palestras foram interessantes, e nos ensinaram algumas coisas sobre as bebidas tão aprecidas por mim (cachaça e ceveja) e pela Chris (café).

Também participamos de uma aula-degustação com Mônica Rangel, chef e proprietária do restaurante Gosto com Gosto, em Visconde de Mauá, e jurada do pragama Cozinheiros em Ação, da GNT. Neste caso a aula custou R$ 35,00 por pessoa, com direito a comer o robalo com creme de coco e farofa crocante que ela nos ensinou a preparar. 

Mônica Rangel servindo um cadinho de farofa pro Fê

Também teve aula com o chef Alex Atala, mas essa já estava lotada antes mesmo de chegarmos à cidade, já que todos os ingressos foram vendidos pela internet. Isso não me impediu de tirar uma casquinha do rapaz, depois de muita insistência da Chris.

 
Dá pra saber pela foto quem é o grande chef brasileiro?


As Praias

Sabíamos que as melhores praias de Paraty só são acessadas por barco, ou trilhas longas. Mas o tempo não estava muito bom, e não queríamos nos arriscar a pegar uma tempestade no meio do mar. Poderíamos ir para Trindade, que tem belas praias acessíveis por carro, mas já tínhamos visitado a vila em 2009, e queríamos conhecer praias novas. Acabamos conhecendo três praias fáceis de serem acessadas por carro, e que se mostraram gratas surpresas.

Praia Grande

A entradinha da praia dista apenas 10 km do centro de Paraty, via BR-101 sentido Rio de Janeiro. Se chegar cedo, dá pra estacionar o carro tranquilamente nas poucas vagas disponíveis bem ao lado de um quiosque de artesanato. Nem chegamos tão cedo assim, mas acho que a maioria das pessoas tinha aproveitado o sol para fazer os passeios de barco, então estava bem tranquilo.

Uma visão geral da pequena Praia Grande

Apesar do nome, a praia é bem pequenina. Nossa primeira impressão não foi muito boa, muitos barcos, uma certa confusão visual. Mas demos uma caminhada até o canto direito, e começamos a nos encantar com ela. Ali fica o Quiosque São Francisco, onde nos sentamos. Atendimento atencioso, cardápio cheio de opções, preço compatível. Pedimos camarão sete barbas ao alho e óleo e...bem, não tem o que errar, claro que estava ótimo. E bem servido. Por R$ 32,00.

Os crustáceos que foram devidamente dizimados

Estávamos muito felizes e satisfeitos, porque o tempo estava tão feio no dia anterior, e até no próprio dia pela manhã, que achávamos que seria impossível curtir uma prainha, tomar uma e comer uns crustáceozinhos. Mas o sol veio, e tudo de bom que vem com ele também.

A Chris, o sol, as sombras

Prainha da Praia Grande

Por uma pequena trilha que sai do lado esquerdo da Praia Grande, chega-se à Prainha da Praia Grande (é, o pessoal não é lá muito criativo com os nomes). Outra pequena preciosidade, desta vez sem barcos de pescadores, mas também com um quiosque, que acabamos não usando porque estávamos cheios de camarão no bucho.

Chris toma sol à direita, perto da sombra pro Fê não se queimar

Praia de São Gonçalinho

Também acessível por carro, via BR-101 sentido Rio de Janeiro, mas um pouco mais distante (cerca de 30km) do centro de Paraty. Mas a estrada é boa neste trecho, e muito bonita, embora tenha alguns radares chatos de 40km. Sei que é politicamente incorreto falar mal de radar, mas 40 por hora é sacanagem, né?
Aqui de fato é bom chegar cedo. Os carros ficam estacionados numa estradinha de terra que dá na praia. Esta estradinha é inclinada. Ou seja, se você chegar tarde, vai ficar parado longe, e na volta da praia vai ter que subir um morrinho. De qualquer forma, mesmo chegando tarde, vale a pena. A praia é muito bonita, com águas extremamente calmas, muito verde ao redor, e uma ilha em frente.

Na mesa ao nosso lado, um alemão e sua namorada/esposa/sei-lá-o-quê brasileira. O cara era bem figura, chegou a ensaiar uma dancinha pra elas, todo sem jeito. Depois se emperequetou numa pedra e lá ficou um bom tempo olhando o mar. Figura.

Chris observa a praia, e o alemão doido de pedra na pedra

 Por conta das águas extremamente calmas, a praia tem muitas famílias com crianças. Muitas mesmo. Pra gente foi divertido ficar vendo as crianças brincando na água. Mas quem é sensível a barulho infantil pode se incomodar. E quem gosta de ondas vai ficar frustradíssimo. Elas simplesmente não existem por aqui.
O Quiosque Duzé é o único comércio do local. Não estava aberto quando chegamos, por volta de 9 da manhã. Mas logo ele abriu, e a cerva era gelada, o que é meio caminho andado. Ele nos serviu uma porção de cavala bem da feia, mas o importante é que estava bem da gostosa.

Fê se lambuza com a cavala

Centro Histórico

Aqui reside o grande diferencial de Paraty diante da maioria das cidades litorâneas do Brasil: história preservada. A cidade enfrentou um longo período de decadência no século XIX, quando o ouro do Rio de Janeiro passou a ir direto para Minas Gerais, e vice-versa, deixando de passar por ali. Por conta disso, a cidade ficou esquecida, e assim teve suas construções coloniais preservadas. Sorte a nossa, que agora podemos desfrutar desse ar colonial, com todas as comodidades do mundo moderno.

Casal sentado em uma das belas ruinhas do Centro Histórico

Bater perna pelo seu Centro Histórico é uma delícia. De tênis, que fique claro. Embora não tenha ladeiras, suas ruas são todas de pedra, o que dificulta o caminhar com outros tipos de calçados. Aqui, o gostoso é se perder, de vez em quando entrando em uma de suas inúmeras lojinhas. Há também muitos cafés, restaurantes e sorveterias. O centro não é muito grande, e nas suas ruas principais não é permitido o acesso de carros, o que é uma maravilha. Dá pra voltar a ser criança e atravessar a rua sem olhar pros lados. O único risco é ser atropelado por uma das dezenas de charretes que fazem passeios guiados pelas ruas do centro. Não fizemos, achamos que era muito "pega-turista", mas até que poderia ser interessante. De qualquer forma, os veículos antigos dão um charme a mais à cidade.

 Em tempos de instabilidade climática, Paraty é uma pedida excelente, justamente por conta de seu Centro Histórico. Na maioria das cidades de praia, sua viagem está perdida em caso de chuva. Aqui, ainda pode haver salvação. Por exemplo, as ruas do centro inundadas pela chuva, com as construções se refletindo nas águas, são até cartão postal. Infelizmente, ou felizmente, não chegamos a presenciar esta atração turística. Há algumas igrejas que rendem boas fotos do lado de fora, mas só uma delas, a da Matriz, estava aberta a visitações internas, e não era lá grandes coisas.

Chris e Igreja de Santa Rita, em reforma

Além de tudo, como vocês podem perceber, a cidade é fotogênica que só ela. Um fotógrafo profissional faz a festa por aqui, tal a quantidade de ângulos que a cidade oferece, com suas esquinas desencontradas, seu casario colonial e suas ruas de pedra.

Comidas e comidinhas

Fizemos três jantares durante nossa estadia. Temos a política de não almoçar quando estamos viajando, pra não dar aquela tristeza pós-rango que tira o ímpeto de bater perna. Nossas considerações sobre os restaurantes podem ser melhor avaliadas em nosso outro blog, Chris e Fê vão papar

Também há muitas opções de comidinhas pelo Centro Histórico. Fomos a três sorveterias: Miracolo, Pistache e Ice Paraty. Todas muito boas, com opções diferentes de sabores, em especial a Miracolo, que fica em frente à Praça da Matriz, e tem suas opções todas grafadas em italiano. "Fragola", por exemplo, é morango, sabia? Eu não sabia.

Sim, o Fê escolheu o Fragola na Miracolo

Pra comidinhas salgadas fomos ao Café Pingado, onde tomamos uma cerveja pelando (iiirc!!), mas em compensação comemos bons salgados. Chris até tomou uma sopa de mandioca com camarão, que fazia parte do Festival Folia Gastronômica. Também fomos ao Café Noah, onde a Chris tomou um café coado na mesa, com um coadorzinho muito do bacanudo. Isso sem falar no Armazém da Cachaça, de nome sugestivo, mas onde na verdade tomamos uma cerveja Caborê (R$ 19,90!!), feita em Paraty, geladíssima.

Chris no Café Noah, com seu pretinho coado na hora

No Café Pingado, a sopa de camarão e a tortinha do mesmo bicho

A Caburê por quase 20 pilas, mas gelada e boa



A Pousada

Ficamos em uma pousada chamada Rosa Café. Fica na Rua Noel Rosa, por isso o simpático nome. Embora, pensando agora, não saiba bem o que o café está fazendo ali. Pousada bem básica, fazendo valer o que cobra de diária (R$ 180,00). Fica perto do Centro Histórico, cerca de 2km de distância. Claro que pra ir e voltar a pé, todo dia, pode ser um pouco cansativo, mas de carro você faz nuns 3 minutos. E Paraty tem uma maravilha de bolsão de estacionamento gratuito, colado no centro, onde cabem muuuuitos carros. Claro que não há estrutura com vigia, portão, nada disso, mas é bem tranquilo pra deixar o veículo.

Chris e a pequenina e bela piscininha

Voltando à pousada, Cláudio, seu proprietário, nos atendeu muito bem, deu algumas dicas, emprestou um providencial guarda-chuva, e ainda estendeu nossa estadia por mais duas horas, sem custo adicional. A decoração também é bem bonita, com peças artesanais diferenciadas. Pequenas coisas que fazem a diferença. 

Uma das belas peças de decoração. Na parede, não com a camiseta dos Stones


Conclusões

É fato: adoramos Paraty. A segunda visita serviu para confirmarmos isso. Não me lembro de outra cidade de praia que junte tão bem história e mar. Pra quem gosta dos dois, e ainda não foi, resta saber o que o(a) impede de fazer as malas e ir agora. Pena não termos mais tempo, pra poder curtir outras praias, especialmente aquelas que necessitam de barco para ir, que acabamos não conhecendo. Paraty é uma cidade que merece ao menos uma semana, bem tranquila, pra conhecê-la bem. Mas, ó, três dias também tá bom demais, viu? Ou dois dias. Até um resolve. O importante é ir.   

Ela é linda mesmo