terça-feira, 9 de maio de 2017

Chapada dos Veadeiros, a beleza democrática do cerrado

 (Não se esqueçam, basta clicar nas fotos que elas ficam ainda maiores! Depois é só dar "esc" e voltar a ler)


A viagem

Cidades: Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante
Data: 01/03/2017 a 06/03/2017
 

Chapada dos Veadeiros é uma microrregião do estado de Goiás, conhecida pelos atrativos naturais e pela fama de ser um lugar místico. Essa fama vem do fato de a região ficar no Paralelo 14, o mesmo por onde passa Machu Picchu, a cidade inca perdida no Peru. Também se acredita que a chapada esteja sobre uma gigantesca pedra de cristal de quartzo, que atrai para a cidade objetos voadores não identificados e seres iluminados. A temática dos ETs é explorada pelo comércio da região. Mas se tudo isso não te interessar, esteja certo de que os atrativos naturais são mais do que suficientes para valer a viagem.

A região engloba algumas cidades, mas certamente a mais conhecida é Alto Paraíso de Goiás. A não ser que você seja uma pessoa realmente disposta a ficar de fora do circuito turístico, vai ter que se hospedar por lá caso planeje uma viagem à região. Dentro dos limites do município há duas possibilidades de locais para se hospedar: Alto Paraíso propriamente dita e a Vila de São Jorge. Outra opção de hospedagem é a cidade de Cavalcante, distante cerca de 90km de Alto Paraíso.

Fizemos toda nossa viagem com carro alugado, que proporciona muito mais liberdade para fazer os passeios por contra própria. As outras opções são fechar pacotes com agências de turismo ou contar com caronas. Quase não vimos táxis por lá, e o sistema de transporte coletivo também não dá conta da maioria das atrações.

Vamos agora dar uma detalhada maior nas três possibilidades de locais para se hospedar. A primeira, que foi nossa escolhida, é a:

Vila de São Jorge

 
O simpático povoado pertence à Alto Paraíso de Goiás. São cerca de quinhentos habitantes fixos, muitos deles pessoas que simplesmente se apaixonaram pela região e resolveram ficar. A tranquilidade impera, apenas entrecortada pelos risos dos jovens que são maioria entre os turistas. Aqui e ali é normal sentir o cheio da erva danada sendo queimada, e isso faz parte do clima local, assim como as ruas de terra com pouca iluminação. Aos poucos as lojinhas de artesanato vão se desenvolvendo e criando personalidade própria, assim como os restaurantes e bares. No momento de nossa visita a vila não estava lotada. Na alta temporada e em feriados aquelas ruazinhas devem se abarrotar de carros, o que pode não ser muito agradável.


Chris caminha pela tranquila Vila de São Jorge


É tudo assim, feito de terra e pouca luz

Outra opção é ficar no centro de:

Alto Paraíso de Goiás

Com mais estrutura, mais indicada para famílias, pela boa oferta de comércio e serviços, que estão concentrados na larga Avenida Ary Valadão Filho. Aqui as ruas principais são todas asfaltadas, e a iluminação à noite permite ver vários palmos à frente do nariz. Há também mais opções de restaurantes e bares, e muitas lojinhas de artesanato, boa parte delas com vários itens dentro da temática "extraterrestre". Há também uma Casa Lotérica, um banco Itaú e caixa eletrônico da Caixa Econômica Federal. A agência do Banco do Brasil está temporariamente desativada depois de ser explodida, literalmente, por bandidos. 

Não é bem um portal de entrada, mas tá valendo

A avenida principal da cidade, donde tá quase tudo

- "Môr, como é que faz cara de abduzido?" - "Não sei, vou improvisar aqui"

A outra opção de hospedagem, mais distante da maioria das atrações, é:

Cavalcante

Vale para aproveitar melhor as cachoeiras e trilhas dentro da comunidade quilombola de Engenho II. A cidade não tem muito charme, mas tem boa estrutura, ruas asfaltadas e um ótimo Centro de Atendimento ao Turista. O que falta na cidade é explorar mais o artesanato, já que ficamos um bom tempo procurando uma mísera lembrancinha para levar da cidade, coisa que só conseguimos quando já estávamos indo embora.

Olha eles aí, prontos pras cachoeiras de Cavalcante

Em Cavalcante, na Praça Diogo Cavalcante

Vamos falar agora de nossa pousada. Ficamos hospedados, como já dito, na Vila de São Jorge, mais precisamente na:

Pousada Baguá

Praticamente na porta do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, e a menos de cinco minutos a pé do centro da Vila de São Jorge. Foi uma daquelas extravagâncias que eu convenci a Chris a fazer, porque normalmente escolhemos pousadas mais baratas. Mas quando ela viu a foto da piscina, não conseguiu resistir. Grande, com borda infinita, sauna acessada de dentro da água (basta mergulhar para sair dentro dela), ofurô e, ao redor, a paisagem matadora da chapada. Irresistível. 

Pra quê Photoshop?

Se achando na borda infinita

Se achando no mergulho (e parabéns pra fotógrafa!)

Existe a opção de ficar nos bangalôs mais próximos à sede (mais caros) ou nas cabanas Zazu que ficam a cerca de 400 metros de distância. Alguns bangalôs chegam a 80 metros quadrados. As cabanas são mais humildes, mas não menos charmosas, inseridas em meio à vegetação típica do cerrado. Ficamos na Cabana Zazu nº 3. Até demos uma desdenhada dizendo entre nós que preferimos as cabanas, porque são mais tranquilas. Embora não sejam enormes, tem bastante espaço interno, e um frigobar recheado. E o melhor, com preços honestos, como uma long neck da Heineken por R$ 6. Também são equipadas com ventilador de chão (que foi suficiente) e TV de tela plana - que tem poucos canais e fica um pouco longe da cama. O chuveiro é ótimo, o que ajuda muito nos retornos dos passeios.

Nosso cafofo chapadeiro

Ele tá pegando uma água, com certeza

Tudo com luz natural diretamente do cerrado

Para chegarmos ao local do café da manhã tínhamos que caminhar aqueles 400 metros já citados. Mas valia a pena. Não só bela boa oferta de pães, frutas, omeletes e tapiocas, como também pela belíssima vista proporcionada pelo deck onde ele é servido.

O caminho para o rango

Os famintos chegavam antes da mesa estar posta

"Eu peguei esse suco, mas não faço idéia do que seja"

Há diferença de valores nas diárias, dependendo do dia da semana. Ficamos cinco noites, e pagamos em média R$ 352. Não é barato, mas considerando o que a pousada oferece, o preço é justo. O café da manhã está incluído, assim como o uso irrestrito da maravilhosa piscina, que para ser melhor ainda poderia ter um bar molhado. A vista também é de graça.
 

Alto Paraíso de Goiás

(Passaremos agora a falar um pouco sobre tudo que conhecemos em Alto Paraíso de Goiás)

Atrações
 

(Obs: nenhuma das atrações abaixo exige a presença de guia)

Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros

Administrado pelo ICMBio, orgão ligado ao governo federal, é uma das poucas atrações gratuitas em toda a chapada. Seu estacionamento é pago (R$ 15), mas é perfeitamente possível chegar a pé a partir do centro da Vila de São Jorge (1km de caminhada). Tem boa estrutura. A recepção conta com jovens voluntários, que explicam o funcionamento do parque e apresentam um vídeo de poucos minutos com as opções de trilha. Todas elas são auto-guiadas, e muito bem sinalizadas, com setas de cores diferentes para cada uma. É impossível se perder.

Vamos falar primeiro sobre as três trilhas que não fizemos. A mais simples é a Trilha da Seriema, de apenas oitocentos metros (ida e volta), indicada até para crianças. Há também uma trilha mais longa, que deve ser feita em dois ou três dias, chamada Trilha das Sete Quedas, que precisa ser previamente agendada. Outra opção é a Trilha do Salto do Rio Preto (11km ida e volta), que leva a corredeiras e ao salto de oitenta metros de altura. A única que percorremos foi a:

Trilha do Cânion II do Rio Preto e Cachoeira das Cariocas
 

Tem cerca de doze quilômetros no total, somando a ida e a volta, e conhecendo as duas atrações (cânion e cachoeira). Após cerca de 5km de trilha quase sempre plana, chega-se a uma bifurcação, que leva do lado direito ao Cânion II e do lado esquerdo à Cachoeira das Cariocas. Pegamos o lado do cânion, e andamos mais cerca de um quilômetro até chegar nele. A vista é impressionante, com o rio descendo com força pelo meio de dois paredões. Perto dali, descendo pelas pedras, um gostoso poço para banho, onde é preciso tomar cuidado com a correnteza, especialmente em época de chuva.

Visitamos o parque depois de já termos feito quatro dias de passeios. Estávamos cansados e decididos a pegar a trilha de volta sem ir até a Cachoeira das Cariocas, que sabíamos ter uma descida íngreme. Mas no caminho encontramos um viajante solitário, que falou que não podíamos ir embora sem conhecê-la. Deixamos o cansaço de lado e resolvemos ir. De fato há uma descida complicada, que, claro, fica pior na volta. Mas a cachoeira é bonita e larga, com grande volume de água, que cai das rochas formando outras pequenas cachoeiras, montando um belo mosaico. Sua intensidade não permite a proximidade, mas há vários pontos para banho ao redor, e também muitas pedras para sentar e contemplar a beleza. No fim, valeu a pena, embora estivéssemos exaustos ao chegar à recepção.


 
Deixa de ser boba, Chris, tá dando pra te ver aí atrás...



Siga as setas!


Andarilha do cerrado


Se medo tivesse forma, seria essa


Com medo, mas sorrindo, nos cânions do Rio Preto


Tem um caboclinho se banhando no poço perto do cânion


Como a carioca não iria à Cachoeira das Cariocas?


E a carioca se banha próximo à Cachoeira das Cariocas


"É por aí mesmo que sobe?"

Vale da Lua

O acesso se dá por uma estradinha de terra que sai da GO-239. São cerca de vinte minutos de carro até a recepção, onde paga-se R$ 20 por pessoa para fazer a trilha. Caminhada tranquila, em terreno plano, com alguns mirantes pelo caminho. O Vale da Lua tem esse nome porque tem pedras esculpidas durante milhões de anos pela ação das águas, formando crateras que lembram a superfície da lua. Há um grande platô, onde é possível caminhar e observar bem de perto as corredeiras que passam pelos buracos nas rochas, formando desenhos surreais. Há também um pequeno poço para banho. Como o acesso é relativamente fácil, o local costuma ficar cheio. 



Ponte para a Lua

A sereia selenita


Conhecido popularmente como Neil Armstrong

"Olha como é louco o que a água faz nas rochas, mano"

Vale Dourado
 

São oito quilômetros de terra a partir da GO-239, com alguns trechos bem ruins, para se chegar à casa onde moram os donos e administradores do lugar. Ali há sempre um licorzinho de cortesia - no nosso dia era de jenipapo. O simpático Marcelo nos cobrou os R$ 20 de entrada e explicou como chegar às atrações da propriedade. São quatro cachoeiras e mais algumas praias de rio. Também é possível fazer bóia-cross, com agendamento prévio. As trilhas são todas muito bem sinalizadas, com placas mostrando a distância até a atração, e a distância para voltar à recepção.

Acessamos a primeira cachoeira, chamada Cachoeira da Aliança, após uma trilha levíssima de 750 metros. É bonitinha e forma um bom poço pra banho. Dali seguimos mais cerca de quinhentos metros por uma trilha que é parte feita em campo aberto e parte pelo meio da mata, até chegarmos à Cachoeira do Altar. O nome se dá por conta de algumas pedras ao lado que parecem um altar de sacrifício. Essa cachoeira fica em meio à mata, num belo visual, e tem um tronco de madeira atravessado que funciona como uma arquibancada. A partir dali são mais 150 metros até a belíssima Cachoeira da Gruta, que fica num cânion e forma um pequeno poço para banho. Há uma outra cachoeira na propriedade, a Cachoeira do Guardião, que acabamos não conhecendo.

Na mesma propriedade também existem algumas praias de rio. Seguindo a indicação do Marcelo, fomos até a Praia da Pregação. Acesso fácil, de carro, e um visual muito bonito, com areia branquinha e algumas redes para descanso. 



Trilha à prova de burro


Tá audaciosa, a menina


Breve mergulho na Cachoeira da Aliança


Sendo sacrificado na Cachoeira do Altar


Chris sujando os pés na Cachoeira do Altar


Um ângulo oblíquo da Cachoeira da Gruta


Sem pregar coisa nenhuma na Praia da Pregação


Redes pra pregar o corpo na Praia da Pregação

Fazenda São Bento

Também acessada pela GO-239. A partir da estrada rapidamente se chega à recepção. O local também funciona como pousada, e cobra uma entrada de R$30 aos não hóspedes para conhecer as três cachoeiras da propriedade.

Começamos pela Almécegas I, acessada depois de 2km em estrada de terra, ainda com o carro, mais 1,5km em trilha a pé, bastante íngreme. Mas o esforço compensa: um dos lugares mais lindos que já conhecemos. A palavra que eu usei na hora foi miragem. A trilha termina em um mirante de frente para a enorme queda, que desce por um paredão todo desnivelado, formando um desenho incrível. Há outra trilha, também íngreme, que leva ao topo da cachoeira, mas optamos por não fazer.

Voltamos pela trilha, pegamos novamente o carro e seguimos por mais 2km em estrada de terra até o início da trilha leve de duzentos metros até Almécegas II. Enquanto a primeira é para contemplar, essa é para se refrescar. Apesar de grande e intensa, há um platô ao lado da queda, com outras pequenas quedas onde dá para se banhar tranquilamente. A primeira é imcomparável em beleza, mas a segunda tem seus encantos, e tem trilha mais tranquila.

A última cachoeira que conhecemos foi a São Bento, que é a mais perto da recepção da pousada, e tem trilha fácil de trezentos metros. É possível pagar um ingresso de apenas R$ 10 e conhecer apenas ela, sem direito a ir até as duas Almécegas. Por conta de tanta facilidade, havia muita gente por lá, e acabamos nem curtindo muito. Vale a dica: se for conhecê-la, melhor ir bem cedo.

Pertinho da Cachoeira São Bento há um gostoso deque, com uma escadinha que leva até o rio, onde é possível tomar um banho refrescante. Se você der sorte, haverá um trio de araras sobre sua cabeça.



"Quer conhecer Almécegas I ? Então sobe, desgraça!"


"Tá bom, eu subo, eu subo"


E valeu a pena, hein? Confissão: de perto é ainda mais bonita


Na Almécegas II é só deitar e rolar


Na Almécegas II é só sentar e se molhar


Na Almécegas II é só abrir os braços e agradecer


Na Almécegas II é só abrir os braços e agradecer (já disse isso?)


A menina da porteira, rumo à Cachoeira de São Bento


A Cachoeira de São Bento e seu grande poço em que não pulamos


Mas um banhinho no escuro rio, ali pertinho, o Fê tomou


E demos sorte, olha as araras! São três, consegue ver?

Trilha das Corredeiras e Salto do Raizama
 

Para chegar até a recepção é preciso pegar cerca de três quilômetros da estrada de terra que leva até Colinas do Sul. As condições da estrada não são muito boas, mas dá pra ir com carro de passeio. Na recepção existe um palco, onde acontecem alguns shows eventuais, em que os turistas podem tirar fotos com alguns instrumentos de brinquedo e/ou antigos que ficam no local, onde também há grandes pedaços de madeira circulares com desenhos de artistas famosos. Inusitado. Para fazer a trilha paga-se o ingresso de R$ 20. Plana e sem grandes dificuldades, a trilha leva primeiro até um trecho tranquilo de rio, onde é possível se banhar. Depois chega-se ao Salto do Raizama, onde o rio de mesmo nome despenca com força, formando diversas cachoeiras à beira de um cânion. Lugar para contemplação, já que não dá pra tomar banho nem mesmo chegar muito perto das quedas. Para completar, no retorno da trilha há diversas pequenas cachoeiras e piscinas naturais ótimas para um refresco. 

Prossegue a andarilha do cerrado

Uma refrescada no Rio Raizama

O Raizama dando seu salto mortal

E com que violência ele o faz!

Voltando na trilha, feliz que nem Fê na cachoeira

Ingressos esgotados, sorry

Cachoeira do Segredo
 

Atração que demanda um dia inteiro para visita. Para chegar é preciso pegar dez quilômetros da estrada de terra para Colinas do Sul, já citada anteriormente, que não tem condições muito boas. A partir da primeira portaria são mais 3,8 quilômetros de carro até o ponto onde se inicia a trilha. O ingresso custa R$ 35 por pessoa e pode ser comprado no centrinho da Vila de São Jorge. Foi o que fizemos, e ali já recebemos nossas pulseiras de identificação, que nos deram acesso quando lá chegamos. A trilha tem seis quilômetros para ir e mais seis para voltar. Seus primeiros dois quilômetros são feitos por uma estrada onde, reparamos, daria perfeitamente para ir com nosso carro de passeio. Infelizmente não é permitido, mas na volta vimos uma picape estacionada na entrada da trilha pela mata. Ficamos meio putos.

A trilha alterna subidas e descidas em escala parecida. Ou seja, a cada descida a gente ficava feliz, mas já pensava que na volta aquilo seria uma subida. As paisagens mudam bastante: há trilha pelo meio da mata, atravessando rios (mais de dez vezes), por veredas e campos mais abertos, enfim, não há monotonia. Depois de cerca de 2h30 chegamos à queda, que tem esse nome, supomos, porque fica escondidinha num cânion. A visão é belíssima. A queda tem mais de cem metros de altura, e cai nas rochas formando, no caminho, dezenas de mini-cachoeiras que perfazem um lindo desenho. Abaixo, um grande poço de água fria, onde não bate sol. O poço é fundo, e há uma corda de segurança levando de volta à margem. Apesar de dificuldade de chegar, havia no local umas trinta pessoas, e mais foram chegando nos quarenta minutos que ficamos por lá. Ou seja, não é um lugar para contemplação solitária da natureza, a não ser que se chegue bem cedo.

Eu e Chris não somos atletas, longe disso, e ficamos bem cansados na volta. Em dado momento eu falei "amor, não tô achando nada bonito mais, parece que tô andando no asfalto". Exageros à parte, é possível fazer a trilha mesmo sem grande preparo físico, mas é recomendável tê-lo na bagagem. Se vale a pena? Sim, a paisagem é linda - embora esteja longe de ser a cachoeira mais bonita de nossas vidas. Se faríamos de novo agora que já fomos? Nananinanã.  



Refrescando, que senão não dá


Dais veiz tem mata fechada


Dais veiz tem campo aberto


Óia! Tamo chegando!


"Desvendei o segredo! Paz e amor, bicho!"


Fê revela seu segredo, mas o barulho da cachoeira não permite ouvir


Chris, uma aparição e a Cachoeira do Segredo


Fê mergulha, e o segredo é que ele não sabe nadar

Jardim do Edén
 

Seguindo por cerca de treze quilômetros pela precária estrada de terra que leva à Colinas do Sul, chega-se ao espaço, que também cobra R$ 20 por pessoa. São três pequenas piscinas termais, com temperatura em torno de 28ºC. É bem gostoso, mas a verdade é que o combo "20 paus + perrengue na estrada + pouco benefício", em nossa opinião, faz com que não valha a pena a visita. Fosse colado na cidade e custasse cinco contos e iríamos todo dia. Pouco depois do Jardim do Éden fica a fazenda Morro Vermelho, que tem o mesmo esquema mas, dizem, águas mais quentes.


A Chris tá aí na água, vês?


O Fê dá pra ver, tá gordo imenso

Fazenda Loquinhas

Fica a cerca de 3km em estrada de terra a partir do centro de Alto Paraíso de Goiás. Sua trilha principal, chamada Trilha Loquinhas, é uma das mais tranquilas da chapada, indicada para idosos e crianças. O ingresso de R$ 25 é um pouco mais caro do que a média local, mas isso pode ser explicado pelo trajeto de 2km quase todo em passarelas suspensas de madeira, muito bem cuidadas. Pelo caminho são sete poços para banho, cada um com escadas de madeira para se chegar à água. Esforço quase zero. Os mais bacanas são os poços do Xamã e do Pajé, além, claro, da Cachoeira Loquinhas, ponto final da trilha. Há uma outra trilha menor, chamada Trilha Violeta, que não fizemos, também com poços para banho, mas que só se formam no período de chuvas.




As trilhas suspensas da Babilônia

A xamã no Poço do Xamã

O pajé no Poço do Pajé

Água suja em frente à Cachoeira Loquinhas

Um louquinho na Cachoeira Loquinhas



Restaurantes


(A partir de agora vamos falar sobre as refeições que fizemos em Alto Paraíso de Goiás, a maioria delas na Vila de São Jorge)

Restaurante dos Buritis
 

Fica no centro da Vila de São Jorge. Tem um esquema muito parecido com o da rede de fast-food Spoleto. Para quem não sabe, o cliente escolhe o tipo de macarrão e os ingredientes do molho, e vê o preparo sendo feita na hora, à sua frente. O dono bem figura nos disse que ele faz isso antes da rede chegar à região, e portanto ele foi copiado, e não copiou. Ele faz questão de dizer que os R$ 18 pagos dão direito a uma repetição. Ou seja, é lugar para comer de monte sem gastar muito. O estilo é bem informal, como tudo na Vila de São Jorge. Ah, a comida é muito saborosa.

Mas onde estão os buritis?

O homem que inventou o Spoleto

E ainda tem direito a repetição

Paladar Bistrô

Fica no centro da Vila de São Jorge. Ambiente pequeno e simples, com uma varandinha com mesas e cadeiras feitas de troncos de madeira trabalhados. Comemos frango grelhado com arroz e fritas, omelete, uma bela salada, tomamos cerveja, e ficou tudo em R$ 102,08. Preço honesto para uma comida honesta.  


Honestidade total

Da próxima vez tira a foto antes de começar a debulhar tudo

Santo Cerrado
 

Esta experiência está relatada com detalhes (ambiente, avaliação, preço, etc) em nosso outro blog, que pode ser acessado aqui.

Rancho do Waldomiro

Fica na GO-239, a estrada que liga São Jorge ao centro de Alto Paraíso de Goiás. Como o nome indica, o lugar é simples, com cara de roça. Trata-se de uma oportunidade única de provar a matula, uma receita que tocadores de gado comiam em suas andanças pelo estado de Goiás. O Rancho do Waldomiro é um dos poucos que ainda servem o prato, que é um tutu de feijão engrossado com farinha de mandioca, com pedaços de linguiça, carne de sol e carne de lata (curada em banha de porco), servido na folha de bananeira. Muito saborosa, bem temperada mas sem picância. Para acompanhar, banquete sertanejo, com paçoca de carne de sol, arroz, mandioca frita, abóbora, carne de lata e salada de tomate.

Difícil não sair empanturrado. Inclusive seria de grande valia que o local tivesse umas redes para descanso após o inevitável abuso. A versão "comercial" traz as travessas todas à mesa para serem servidas pelos clientes, e custa R$ 35 por pessoa. Foi essa que escolhemos. A versão "PF" traz todos os ingredientes já montados em um prato, e custa R$ 25. Há também uma versão vegetariana, já que há gosto pra tudo nessa vida. Para melhorar (ou piorar), degustação de licores e cachaças da casa, à vontade. Perde-se provavelmente alguns dias de vida com a visita, mas a felicidade é garantida.


A comida nem precisava ser boa

Calma, calma, é só uma graça pra tirar foto, essa senhora não bebeu nada

Comilança pra tocador de gado nenhum botar defeito

Cavalcante

Agora falaremos das atrações que conhecemos na cidade de Cavalcante, distante cerca de 90km de Alto Paraíso de Goiás. Antes disso, é importante dizer como funciona o turismo na cidade.

Se não estiver hospedado por lá, é importante chegar cedo à cidade, já que as atrações mais famosas ficam dentro da comunidade quilombola Engenho II, e para se chegar até ela é preciso encarar 27km em estradas de terra. A comunidade surgiu há muito tempo, formada por humanos escravizados fugidos das minas da região. A comunidade só foi reconhecida há algumas décadas. Guias são obrigatórios para conhecer as atrações, e você pode contratá-los no CAT (Centro de Atendimento ao Turista), que fica no centro da cidade, ou diretamente na comunidade. O serviço do CAT é bem organizado, e foi ali que contratamos os serviços de Celuta, nossa guia nascida em Engenho II, que cobrou R$ 100 para nos acompanhar o dia inteiro. Ela mesmo nos disse que a contratação de guia diretamente na comunidade é mais barata (cerca de R$ 70). Mas perderíamos o conhecimento e as conversas com Celuta durante o percurso até lá. Abaixo listamos as atrações que conhecemos, mas há outras opções, algumas delas fora da comunidade.


Mirante da Ave Maria

Fica na estrada de terra que leva até a comunidade. O nome talvez se deva à beleza, talvez ao perigo do lugar, já que não há grades ou cercas de proteção. Dá um medinho chegar à beira da pedra que serve de mirante, mas vale a pena.

"Cheia de graça, o senhor é convosco"

Cachoeira de Santa Bárbara

Chegando à comunidade é preciso pagar uma taxa de R$ 20 por pessoa. Esse valor inclui as cachoeira de Santa Bárbara e da Capivara. A partir dali fomos de carro até um ponto que funciona como uma portaria, e onde o trecho de estrada começa a ficar mais precário. Ali é possível estacionar o veículo próprio e pagar R$ 5 para ir no pau-de-arara, um veículo 4x4 adaptado. Celuta disse que não entendia de carro, mas que achava que não era necessário usar o pau-de-arara. Ela disse que a estrada tinha "umas parte boa, umas parte ruim". Eu filosofei dizendo que era como a vida. Resolvemos arriscar. De fato a estrada tem pedaços horríveis, com poças d´água, buracos e trechos perigosos. Não é aconselhável a quem não tem costume de dirigir na terra. Mas dá para ir. Tanto que fomos. São 4km de perrengue, até o início da trilha a pé.

A trilha até a Santa Bárbara já foi bem mais curta, mas por conta da erosão ela teve que ser desviada. Há trechos em que não dá para entender a lógica do caminho, e os próprios turistas criaram pequenos atalhos, em geral de poucos metros, que os guias não podem usar, mas que nós usamos bastante. Apesar da mudança a trilha continua tranquila, com uma parte bonita em campo aberto, e mais um trechinho final em meio à mata. O tempo de caminhada é de cerca de meia hora.

Primeiro chegamos à pequena cachoeira conhecida como Santa Barbrinha. Um poço para banho de um azul caribenho e uma pequena queda, rodeada pela mata. Um lugar lindíssimo, daqueles difíceis de acreditar. Havia uns cinco ou seis turistas por ali. Continuamos subindo a trilha por mais um pequeno trecho até chegarmos à Santa Bárbara, que é como se fosse uma versão em escala maior da cachoeira anterior. A escala maior, infelizmente, também se reflete na quantidade de pessoas: o lugar estava bem cheio, a ponto de ser difícil achar um lugar nas pedras para colocar a mochila e as roupas para dar um mergulho. Acabamos ficando pouco tempo ali, e voltamos para a pequenina para mais alguns mergulhos.

Infelizmente acabamos não conhecendo a Cachoeira da Capivara, que estava incluída no passeio, porque durante o percurso até lá o carro passou por um buraco sinistro, e a Chris estava distraída, o que fez com que ela batesse a cabeça com certa violência. Ela ficou um pouco zonza, e achou melhor voltar pra cidade. Acabou não sendo nada grave, mas achamos melhor não arriscar.


Chris e Celuta, intrépidas andarilhas do cerrado

Santa Barbrinha, linda que só ela

Ainda a piscina de Santa Barbrinha

Nós em Santa Barbrinha, e o povo indo pra Santa Bárbara

E aí a Santa Bárbara fica assim, parecendo praia de domingo

Cervejaria Aracê

Fundada por um imigrante chileno em 2005, tem cervejas de fabricação própria e usa insumos da região. Ambiente agradável, sem muita sofisticação, mas com algum charme proporcionado pelos artigos antigos, como um toca-discos em funcionamento, no salão principal. Nos sentamos em uma gostosa varanda ao lado de um gramado, e deu até para dar uma descansada na rede. Pena que as cadeiras não eram lá muito confortáveis. No cardápio há algumas receitas de origem chilena, como empanadas e pastel de choclo (uma espécie de escondidinho feito com milho), e os quatro rótulos da marca: uma witbier, uma ale feita com baru (castanha típica da região), uma pale ale e uma stout. Tomamos as três primeiras lá mesmo, e levamos a outra para tomar no hotel. Todas muito boas, com destaque para a exótica ale de baru, bastante ácida.


Mas gosta de empanada essa mulher, olha a alegria

Uma cerveja de baru, um descanso na rede

O pastel de choclo, nome estranho pra comida gostosa

E o Fê troca uma idéia cervejeira com o simpático chileno

Conclusão sobre a Chapada dos Veadeiros
 

A primeira coisa a ser dita é que a Chapada dos Veadeiros é democrática: aceita atletas e sedentários, abonados e pindaíbas. Há trilhas longas, algumas de vários dias, e outras com apenas algumas centenas de metros, se tanto. Há hotéis confortáveis e cheios de charme, mas também hostels e campings. Comentamos que é possível ficar quatro dias cheios por lá, sem gastar quase nada. Basta hospedar-se num camping na Vila de São Jorge, comer só lanchinhos durante o dia, jantar todas as noites no Restaurante dos Buritis e fazer todas as atrações disponíveis no gratuito Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Pronto, tem-se uma belíssima viagem gastando menos de cem reais por dia.

Os cinco dias que passamos por lá foram insuficientes para conhecermos tudo. Podemos dizer, sendo generosos, que conhecemos metade do que a região oferece. Está de bom tamanho, até porque na mesma viagem desbravamos outros muitos cantos de Goiás. Mas a Chapada dos Veadeiros foi desde o início a parte da jornada que mais nos provocava expectativas. É sempre arriscado criar expectativas, mas no caso da Chapada dos Veadeiros o único risco é elas serem plenamente satisfeitas.

Expectativas plenamente atendidas!