quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Campos do Jordão, para gastar e contemplar

(Não se esqueçam, basta clicar nas fotos que elas ficam ainda maiores! Depois é só dar "esc" e voltar a ler)




A viagem

Cidade: Campos do Jordão (SP)
Data: 21 a 23/08/2015

Moro em São José dos Campos há 26 anos. Campos do Jordão, um dos destinos turísticos mais famosos do Brasil, fica a cerca de noventa quilômetros daqui. E mesmo com toda esta facilidade, só tinha estado na cidade umas três vezes, e sempre em passeios bate-e-volta. Chris, que mora em São José há menos tempo do que eu, já esteve na cidade para dormir, mas também nunca tinha feito uma viagem, digamos, mais turística, para conhecer de fato a cidade. Por este motivo é que nós a escolhemos como destino de um fim de semana inteiro, para finalmente podermos dizer que conhecemos a "Suíça brasileira", para usar um chavão muito utilizado para descrevê-la.

Antes de entrar nos detalhes sobre o que fizemos na cidade, vou falar sobre nossa hospedagem. Ficamos na:

Pousada Aldeia da Serra 

Campos do Jordão é muito cara. Em todos os aspectos, mas notadamente em termos de hospedagens. Tivemos que pesquisar muito para achar um preço razoável e com uma boa localização. E não achamos! Mas vamos falar primeiro sobre os pontos positivos de nossa pousada.

Gostamos do café da manhã, simples mas satisfatório. Os móveis eram de boa qualidade, embora a TV fosse pequena e antiga. Uma boa varandinha permitiu que a Chris desse suas pitadas sem precisar sair do quarto. A vista não era linda, mas dava para ver algumas árvores e construções em estilo alpino bem charmosas. Havia um aquecedor, o que veio a calhar para a friorenta Chris, embora em uma das noites eu tenha dormido sem camisa de tanto calor. O chuveiro com aquecimento a gás esquentava bem rápido, o que muitas vezes não acontece em chuveiros deste tipo. E o atendimento, se não encantou, também não frustrou. Foi tudo bastante correto durante toda nossa estadia.


O bom café da manhã


O telhadinho ali é que não ajuda muito

Pois bem, em outras cidades do país, mesmo as mais turísticas, uma pousada como essa ficaria em torno de duzentos reais, em minha experiência. Talvez um pouco mais por conta do aquecedor. Em Campos do Jordão? Trezentos e cinquenta reais. Para se ter uma idéia, pagamos mais barato do que isso por uma pousada praticamente dentro da Praia de Pipa, no Rio Grande do Norte. A localização é boa, a cerca de um quilômetro da Vila Capivari, onde fica o agito da cidade. Portanto, dentro dos patamares do município, esta pousada tem uma boa relação custo-benefício.


Uma geralzinha do quarto, com a TV de 1512

Diário de Viagem

Sexta-feira - 21/08/2015

Demoramos cerca de uma hora para chegar de São José dos Campos a Campos do Jordão. Não pegamos trânsito nenhum, e a viagem transcorreu sem problemas. Chegamos em Campos por volta de 19h40, e já tínhamos reserva em um restaurante para às 20h. Portanto, mal deu tempo de colocar as malas na pousada e já saímos para jantar no:

Restaurante Libertango

Esta experiência está relatada com detalhes (ambiente, avaliação, preço, etc) em nosso outro blog, que pode ser acessado aqui.

Depois do jantar não tivemos tempo, nem disposição, de fazer mais nada, e voltamos à pousada para dormir.

Sábado - 22/08/2015

Começamos o nosso dia visitando o:

Museu Felícia Leirner

Também conhecido como "museu a céu aberto", a bela área verde possui dezenas de esculturas feitas pela artista polonesa Felícia Leirner, que chegou ao Brasil em 1927 e aqui ficou até sua morte em 1996. As esculturas, em sua maioria brancas, ficam muito bonitas em meio ao gramado e às arvores que enfeitam o parque. Há algumas peças mais abstratas, outras com um siginificado mais literal. Em um belo dia de sol, como demos a sorte de encontrar, rende ótimas fotos. De seus mirantes dá para avistar a Pedra do Baú ao longe. A entrada é gratuita.


Em tese esta é a escultura de um pássaro


Dois pombinhos e a concha acústica


Chris com orelhas de coelinha (não é da Playboy!!)


Dentro do mesmo parque está o:

Auditório Claudio Santoro

É aqui que rolam muitos dos concertos do Festival de Inverno de Campos do Jordão. Estivemos ali num sábado de manhã, quando aconteciam alguns ensaios de grupos de dança, aos quais ficamos assitindo por alguns minutos.


Chris observa o ensaio

Não muito longe dali, visitamos na sequência o:

Palácio Boa Vista

Ou melhor dizendo, tentamos visitar. Havia muita fila, e eu e Chris quando vemos fila começamos a nos coçar instantaneamente. É alergia mesmo. Até falei pra ela "se fosse o Louvre acho que a gente esperaria, né?".


"Isso, faz cara de feliz, mas depois nós vamos embora"

Tiramos algumas fotos do lado de fora, e voltamos no dia seguinte, logo cedo, quando finalmente conseguimos visitá-lo. É a residência de inverno do governador de São Paulo, e abre para visitas por conta de seu acervo de quadros e mobiliário antigo. Quando não há ninguém hospedado a visita passa também pelos aposentos usados pelo governador e seus convidados. Entre os artistas com obras à mostra estão Tarsila do Amaral, Portinari, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Anita Malfatti, entre outros. Ou seja, praticamente todas as feras do modernismo brasileiro. A visita é guiada e gratuita, e dura cerca de meia hora.  Não são permitidas fotos internas, porque segundo o guia eles não tem o direito de imagem das obras ali exibidas. Vale muito a pena sair um pouco do burburinho do centro de Campos para conhecer o lugar. Mas é bom chegar cedo!


Na parte interna, o solar é o único lugar onde se pode tirar fotos


Parte dos jardins do palácio

Pegamos o carro e nos dirigimos até a:

Fábrica de cervejas Baden Baden

O local tem visitas guiadas à fábrica, mas infelizmente não conseguimos agendar com antecedência. Liguei um dia antes, e já estava tudo lotado. A visita é bem concorrida, portanto vale a pena se programar. Ainda que não se faça a visita, vale a pena visitar a lojinha, que vende as cervejas por preços um pouco melhores do que os encontrados na cidade, além de diversos tipos de lembranças, como camisetas, taças, abridores de garrafa, etc. Tudo com a marca Baden Baden. Vale lembrar que hoje em dia apenas parte da produção das cervejas é feita em Campos do Jordão, já que a cervejaria foi vendida para uma empresa japonesa chamada Brasil Kirin, e deixou de ser artesanal. Por enquanto a qualidade continua a mesma. 


Assim, visitar não visitamos, mas dá pra fazer uma graça

Depois de termos uma manhã bastante cultural, era hora de bater perna pela:

Vila Capivari

Não tem jeito, é o passeio mais clássico de Campos do Jordão. Todo mundo se encontra aqui, nas quatro ou cinco ruas principais que compõem um dos bairros mais chiques do Brasil. As construções são todas em estilo alpino, cheias de charme, com muitas e muitas lojas de artesanato, chocolaterias, bares, restaurantes, lojas de grife, entre outros tipos de comércio. Se sua pegada não for essa, vale escolher um lugar calmo (coisa rara) e ficar apenas observando o vai e vem da multidão. Sim, mesmo já na metade de agosto, quando a altíssima temporada já havia se encerrado, a cidade continuava bem cheia.

Tentamos uma mesa na Cervejaria Baden Baden. Há fila de espera, e acho que já escrevi sobre o que a palavra "fila" causa em nós. Além do mais, em um lugar bacana como a Vila Capivari, acho bem cafona ficar esperando para sentar em uma mesa. As mais disputadas são as mesas do lado de fora, por isso acabamos aceitando ficar em uma mesa interna, apenas para dizer que tínhamos tomado uma ali. Nos sentamos no primeiro andar da casa, bem escondidinhos, tão escondidinhos que nenhum garçom nos viu por cerca de dez minutos. Olhamos o cardápio, e vimos que as cervejas custavam o dobro do que tínhamos acabado de ver na lojinha da fábrica. Então levantamos e fomos embora. Andamos um pouquinho e encontramos o:

Lugui Empório e Chocolateria

Era o único lugar vazio e com mesinhas na calçada. Conversamos um pouco com o atendente, que disse que a loja era nova, e por enquanto só vendia cerveja e chocolate. Não nos fizemos de rogados. Enquanto eu fui ao banheiro Chris achou um chocolatinho com amêndoas (R$ 18 por 100g!) que casou bem com uma cerveja estilo dunkel da cervejaria Campos do Jordão, rival da Baden Baden. Tomem, seus papudos! Chris ainda pôde pitar seus cigarrinhos, e passamos momentos bem agradáveis, recebendo vez ou outra olhares enviesados dos passantes, como que dizendo "como vocês tem a audácia de não se acotovelarem pra tomar uma cervejinha?".


Chocolate? Com cerveja!

Em nossa busca por tipos diferentes de cervejas para minha coleção de rótulos, paramos no:

Armazém Brasil

Um barzinho bem gostoso, com muitas mesas ao ar livre, música ao vivo e preços mais baixos do que na Cervejaria Baden Baden. Ali encontramos uma edição especial de 15 anos da Baden Baden, toda feita com lúpulos brasileiros, o que é bem raro, já que o Brasil ainda não é forte na produção deste ingrediente. Acompanhamos a loira com uma porção de polenta frita, e os bons músicos valorizaram bem os seis reais de couvert artístico que lhes pagamos ao final. No domingo também demos uma passada no bar, por isso as fotos aí abaixo vão ter uma diferença de figurino.


Polenta frita? Com cerveja!


Outro ângulo do mesmo boteco, em outro dia

No campo das comidinhas, vale a pena visitar a:

Sorveteria Campos Gelato

Esta também foi visitada no domingo, mas o relato já vai entrar aqui, já que estou falando da Vila Capivari, onde ela fica. Como tudo em Campos, não é um lugar barato, mas para quem gosta de sorvete vale a pena. Pagamos quinze reais cada um por apenas duas bolas! Há diversos sabores inusitados, e outros mais comuns. Chris foi de tiramisù e paçoca, e eu fui de arroz doce (!) e ferrero rocher. Qualidade excelente, a despeito da facada no bolso.


Sorvete? Com facada! Mas é bão...

Por falar em facada no bolso, há várias chocolaterias na Vila Capivari, muitas delas com fabricação própria. Mas acabamos não tendo coragem de comprar nada. A maioria dos chocolates são vendidos por peso, e o mais barato que encontramos começava em R$ 159,90 o quilo. Convenhamos, é um pouco demais. Portanto só comemos os chocolates citados no Empório Lugui e mais nada.

Também nos arredores da Vila Capivari fica a:

Estação Ferroviária de Campos do Jordão

Há passeios diários para Santo Antônio do Pinhal, mas estava sempre muito cheio e nem nos aventuramos. Aliás, o único motivo de eu colocar aqui este verbete era para ter uma desculpa de publicar a foto abaixo, com minha risonha tentativa de suicídio.


Tola tentativa de se auto-assassinar-se a si mesmo

Pois bem, depois de badalar um pouquinho pela Vila Capivari, fomos visitar o:

Museu Casa da Xilogravura

Uma espécia de mãe das técnicas de impressão atuais, a xilogravura, que utiliza madeira entalhada como matriz de impressão, está representada em mais de 400 obras de diversos artistas, entre eles Lasar Segall. O acervo é particular, e pertence ao professor Antonio Costella, que já deixou em testamento todas a sua coleção para a USP. Além de expor as peças, o museu conta um pouco da história da xilogravura bem como de outras técnicas de impressão que vieram depois, mostrando a importância da técnica para o desenvolvimento da imprensa e da editoração em geral. Para quem gosta do assunto ou é simplesmente curioso, vale a visita. A entrada custa cinco reais, e ao final há uma pequena lojinha com alguns itens à venda.


Xilogravura bonita. E forte.


Apenas e tão somente piriguetando

Voltamos para a pousada, e à noite saímos para jantar no restaurante:

Confraria do Sabor

Esta experiência está relatada com detalhes (ambiente, avaliação, preço, etc) em nosso outro blog, que pode ser acessado aqui.

Domingo - 23/08/2015

Começamos o dia visitando o:

Mosteiro de São João e Convento das Beneditinas

Como convém a um lugar destinado a formar monjas beneditinas, o espaço inspira paz e tranquilidade. Em um reduto no caminho que leva ao Palácio Boa Vista, o mosteiro conta com paisagismo caprichado e muita natureza. Visitamos o lugar logo cedo, e havia uma excursão fazendo uma visita no mesmo horário, com algumas dezenas de pessoas. Nem isso tirou o clima de sossego, uma vez que a maioria dos turistas respeitou o pedido de falar baixo expresso em algumas placas na propriedade. Há uma loja com diversos artigos religiosos e artesanato, além de doces e geléias, tudo feito pelas 27 irmãs que hoje habitam o local. O ébrio aqui conseguiu até mesmo comprar um vinho especial para missas, que será devidamente ingerido em algum momento sagrado. Há também no local a venda de mudas de plantas. Outra atração é o recital de canto gregoriano, que acontece no fim da tarde, e que não chegamos a acompanhar.


Pra não dizerem que somos ímpios


Chris chegou a cogitar a vida monástica só pra ficar aqui

Foi logo depois da visita ao mosteiro que visitamos por dentro o Palácio Boa Vista, já citado anteriormente. Depois seguimos para o:

Horto Florestal (ou Parque Estadual Campos do Jordão)

O parque fica a nove quilômetros do centro da Vila Capivari, em uma estrada que se chama Estrada do Horto, e termina exatamente no horto. Não tem como errar. Durante o percurso até lá, muitos restaurantes famosos da cidade, como o alemão Harry Pisek, além de algumas outras atrações, como o Borboletário Flores que Voam, onde até ameaçamos de ir, mas desistimos por conta do preço salgado de 25 reais por pessoa. Já visitamos borboletários em outros lugares do Brasil, e achamos que não valia a pena.


Na entrada do parque

A entrada custa doze reais por pessoa. O parque fica em uma área muito bonita, com rios e mata preservada. Há espaços para piqueniques e algumas atividades pagas à parte, como tirolesa e aluguel de bicicleta. Há também quatro trilhas abertas ao público. Fizemos a Trilha das Quatro Pontes, a mais curta e fácil delas, com 2 km. Trilha bem gostosa e tranquila, passando por algumas pontes sobre o rio. Pelas indicações do mapa que pegamos na portaria, nenhuma das outras três trilhas é um bicho de sete cabeças, podendo ser feitas por qualquer bancário sedentário.


Chris morrendo de medo em uma das quatro pontes


Macaqueando

O parque também conta com algumas boas lojas de artesanato, além de lanchonetes. Inclusive fizemos um lanchinho rápido por ali, apreciando a bela vista da natureza.


Café? Com cerveja!

Como adoramos uma igrejinha, antes de ir embora da cidade ainda passamos na:

Matriz de Santa Teresinha

Quase todo mundo que vai a Campos vê sua torre azul e branca se destacando no céu quando pega a avenida que leva do portal da cidade até a Vila Capivari. Mas acho que poucas pessoas vão até lá, já que ela fica um pouco afastada das principais atrações da cidade, e não consta nos guias turísticos. Para nós foi muito agradável, especialmente ao descobrirmos que ela é dedicada à Santa Terezinha das Rosas. Canonizada em 1925, é uma santa que a Chris aprendeu a gostar por conta de sua imagem sempre serena, segurando rosas nas mãos.


Selfie? É pra quem sabe


Chris e a santa

Conclusão

A primeira e óbvia conclusão é que Campos do Jordão é uma cidade cara. Como destino de inverno preferido dos endinheirados paulistas, a cidade se elitizou bastante nos últimos tempos. No final dos anos 90 minha mãe chegou a ir até a cidade apenas para comprar roupas de frio por preços mais em conta. Hoje ela iria à falência se o fizesse. Encarecer tudo é uma forma de filtrar a frequência e assim se livrar de um certo tipo de turismo, considerado indesejado aos olhos de seus principais frequentadores. Muitos vão ali única e exclusivamente para ostentar, e isto muitas vezes é ainda mais brega do que o tipo de turismo ao qual me referi anteriormente. Mas estas são apenas conclusões minhas, embora difíceis de serem refutadas.

Dito isto, é claro que a cidade tem encantos e é charmosa. É preciso tomar cuidado com suas armadilhas, e fazer algum esforço para sair um pouco do circuito da Vila Capivari. Há muitas belezas que a natureza privilegiada da região oferece, sem que se precise gastar muito. E também boas atrações culturais, com possibilidade de ver obras de grandes artistas brasileiros.

Se não bastassem estes atrativos, a cidade ainda oferece as cervejas das marcas Campos do Jordão e Baden Baden que...bem, não são fabricadas ali. Mas a gente finge que são. Ser turista às vezes exige deixar pra lá o espírito crítico e simplesmente ser feliz. Com uma deliciosa cerveja tudo fica mais fácil.

O boneco de neve no Mosteiro de São João