quinta-feira, 28 de maio de 2015

Rio de Janeiro, um viva à carioquice! (Parte 1)

(Não se esqueçam, basta clicar nas fotos que elas ficam ainda maiores! Depois é só dar "esc" e voltar a ler)




A viagem

Data: de 04 a 13/03/2015
Cidade: Rio de Janeiro

Já não éramos virgens de Rio de Janeiro. Chris, por sinal, viveu na cidade boa parte de sua vida. Eu já tinha estado por lá há cerca de quinze anos. E também já tínhamos ido juntos para uma visita rápida. Mas, especialmente para mim, era chegada a hora de conhecer de verdade aquele que é o maior ícone turístico do Brasil, e um dos maiores do mundo. Para isso, reservamos 9 dias de nossa viagem de férias para sermos "moradores" da Cidade Maravilhosa.

Para aumentar essa sensação de pertencer à cidade, usamos pela primeira vez os serviços do Airbnb, que para quem não sabe é um site (e também um aplicativo de celular) que agrega casas para aluguéis curtos em inúmeras cidades pelo mundo inteiro. A vantagem é que o site faz toda a intermediação, trazendo mais segurança para locador e locatário. Dá pra achar os mais variados tipos de acomodação e, por conseguinte, os mais variados preços. Alugamos um apartamento em Ipanema por duzentos reais a diária. Não se acha hotel por ali por menos de trezentos. A desvantagem: não tem café da manhã nem arrumação inclusa. A vantagem: você pode ir ao mercado e comprar seu próprio café da manhã, cozinhar sua própria comida, e deixar tudo uma zona mesmo. Ou não. É sua casa. Nem que seja apenas por um período curto.

Não sei se demos sorte, mas o serviço funcionou à perfeição. O apartamento era ainda melhor do que as fotos dele sugeriam, e a localização, colada no metrô General Osório e a duas quadras da praia, era perfeita. De fato se tornou a nossa casa por aquelas duas semanas, e constantemente nos pegávamos conversando e dizendo coisas como "hoje quando voltarmos pra casa precisamos passar na padaria e comprar leite". Uma experiência que recomendamos fortemente. 


Uma geralzinha do apê

Chris olhando a vista

Por conta de ter sido uma viagem longa, em que visitamos uma quantidade gigantesca de atrações, ficaria muito confuso, e trabalhoso, dividir o texto por temas, como normalmente fazemos com as cidades em que a estadia é mais curta. Então a divisão vai ser como um diário, mostrando o que fizemos dia a dia. Deste modo também dá pra se ter uma idéia boa da proximidade das atrações, já que boa parte dos passeios, especialmente pelo centro, nós fizemos a pé.

Vamos então começar o passeio pela incrível e inigualável ex-capital federal. Ao escrever, estarei de certa forma revisitando a cidade, o que será um prazer.


1º Dia: Praia Vermelha, Bondinho e Urca

Viemos de carro de Petrópolis, e antes mesmo de devolvermos o carro e  irmos para nosso apartamento, seguimos direto para a:

Praia Vermelha

Ensanduichada pelo Morro da Urca e o Morro da Babilônia, é uma praia acanhada, mas de grande beleza natural. Uma das mais seguras do Rio, pois fica numa área militar. Em sua pequena orla, uma pequena e inusitada estátua do compositor polonês Chopin. Só depois eu fui descobrir que esta estátua costumava ficar em frente ao Theatro Municipal, e foi deslocada para a Praia Vermelha não sei por qual motivo. Vale lembrar que foi em um prédio nesta praia que a Chris passou boa parte de sua infância e adolescência, portanto a visita teve um gostinho especial para ela.

"Má o qui qui o Chopin faz aqui?"


Fê prestes a explodir a Praia Vermelha, o Morro da Urca e o Pão de Açucar

Mas a melhor parte da Praia Vermelha é certamente o fato de que ela fica colada à entrada do:

Bondinho do Pão de Açúcar

Certamente uma das atrações turísticas mais famosas não só do Rio e do Brasil como do mundo inteiro. Era minha primeira vez ali, e confessei à Chris que estava um pouco emocionado. Achei que aquilo de certa forma simbolizava o fim de meu ciclo por todas as capitais do Brasil. Mas deixando a emoção de lado, a estrutura do passeio é muito boa. Tudo muito bem organizado, limpo e seguro. Chris apontou que talvez seja a única das grandes atrações cariocas que pode ser conhecida com total tranquilidade e segurança. Mas não é barato: custa R$ 62 por pessoa. 

Chris cheia de medo no bondinho, e lá embaixo a Praia Vermelha

Nem todo mundo sabe que o passeio do bondinho não leva direto ao Pão de Açucar. Ele tem uma primeira parada no Morro da Urca, um pouco mais baixo que seu vizinho. Ali há boa estrutura com lanchonetes, banheiros, uma pequena trilha na mata e, claro, mirantes maravilhosos. Há também alguns bondinhos antigos em exposição, onde dá pra tirar umas fotos. Sentamos em uma lanchonete, onde tomamos três latinhas de Skol (R$ 7,50 cada!) e comemos uma porção com quatro pastéizinhos de carne (R$ 17,00).


Bela vista da enseada de Botafogo

Um dos bondes disponíveis para fotos, com um besta lá dentro

Lá é o Pão de Açúcar. Aqui é a unha da Chris.

Nossa porçãozinhainhainha

Depois de saracotear um pouco por ali, pega-se novamente o bondinho até o Pão de Açucar propriamente dito. Ali a vista é ainda mais espetacular, descortinando a Praia de Copacabana de um lado e toda a Baía de Guanabara do outro, podendo-se avistar até a Ponte Rio-Niterói ao fundo. Eu ainda não tinha tanta noção de que durante os próximos dias eu teria por muitas e muitas vezes a visão inversa, já que o Pão de Açucar pode ser avistado de boa parte do Rio. Há também uma loja de souvenires, com artigos caríssimos, que depois podem ser encontrados por preços muito melhores em outras partes da cidade. Ainda bem que eu e Chris fomos espertos e não sucumbimos à sanha consumista. Mas teve uma camiseta que eu vi ali que depois não encontrei em mais lugar nenhum. Deveria ter sucumbido!

Em cima da cabeça do Fê está um certo Cristo, atrás da Chris uma tal Copacabana

Nevoeiro morro abaixo

Descemos do bondinho e, ainda com o carro alugado, demos uma passadinha no vizinho:

Bairro da Urca

Bairro tranquilíssimo, e também muito seguro, por estar em área militar, e ter apenas uma rua para se chegar e sair. Fica difícil pros bandidos concatenarem a fuga, imagino. Não é à toa que o rei Roberto Carlos escolheu o bairro como moradia. Com apenas algumas ruas e muito arborizado, é uma delícia de se passear a pé. A praia pública não é lá grandes coisas. Chris me disse que as praias exclusivas dos militares são as melhores. Ela teve o privilégio de frequentá-las por ser filha de militar e também por namorar um militar à época. Mas pudemos tomar uma no famoso Bar Urca, sentadinhos na mureta que dá vista para a Baía de Guanabara e para outro ícone onipresente no Rio, o Cristo Redentor, que pode ser visto ao fundo.

Tomando uma na mureta, com o Cristo escondido

Em seguida devolvemos o carro alugado, já que em uma cidade gigante e com trânsito caótico, ficar com o carro seria pedir para nos estressarmos. À noite, saímos para jantar num restaurante bem pertinho do apê, chamado:

Casa da Feijoada

Com esse nome, eu sinceramente esperava um ambiente aberto, com samba rolando bem alto e mesas de plástico. Mas que nada. Ambiente fechado, com ar-condicionado, uma coisa mais pro formal do que pro despojado. Uma feijoada para turistas, eu diria. Assim que nos sentamos à mesa já nos foi oferecido um caldinho de feijão "pra esquentar", segundo o garçom. Depois ele nos perguntou se queríamos o cardápio ou feijoada. "Feijoada!". "Só carnes nobres ou com orelha e rabo?". "Só carnes nobres!". Claro que por carnes nobres entenda-se paio, carne seca, enfim, os acompanhamentos tradicionais. Ainda antes da feijoada é servida uma linguicinha frita e uma caipirinha da casa.

Cerveja, cachaça e linguiça, que é pro coração não reclamar

Na hora da feijuca propriamente dita, o único item que estranhamos um pouco foi a porção de mandioca. De resto, os triviais arroz/couve/farofa/laranja. Mesmo pedindo só as carnes nobres, vem à mesa um feijão só com caldo e outro com as carnes. O que vem sem as carnes carece de tempero, o outro é mais saboroso. De qualquer forma não foi a melhor feijoada de nossas vidas. Mas estava boa. Para finalizar, um pratinho com três pequenos doces: de abóbora com coco, de leite e de banana. Todo esse "pacote" sai por R$ 77 por cabeça.

Bem comportadinhos pra bater uma feijoada

2º Dia: Igrejas e museus no centro histórico

Logo cedo pegamos o metrô e descemos na Estação Carioca. Ali pertinho, no Largo da Carioca, visitamos a impressionante:

Igreja de São Francisco da Penitência

Ela faz parte do complexo do Convento de Santo Antonio. Mas se você não souber de sua existência, corre um grande risco de entrar e sair do lugar sem conhecê-la. Provavelmente vai olhar a fachada e dizer "não vou entrar nesta merdinha". E vai perder de conhecer uma jóia. E isso é literal. É ouro que não acaba mais. E uma quantidade de detalhes impressionante, para um templo tão pequeno. Pena que não há um folheto explicativo contando a história do lugar, e detalhando suas características. Seria de grande utilidade. Ainda assim, dá pra passar um bom tempo ali embasbacado com a beleza. No altar, uma imagem de São Francisco aos pés do Cristo Seráfico (com asas de anjo), retratando o momento em que o santo teve sua visão de Jesus, e recebeu suas cinco chagas, sendo o único santo católico a ter recebido todas elas. 

A igreja católica passava por sérios problemas financeiros, tadinha

Anexo à igreja há um pequeno Museu de Arte Sacra, com peças belíssimas, mas com os mesmos problemas em relação à identificação e organização. Para se ter idéia, as fichas com identificação das peças estavam escritas à mão! Uma pena ver isso em uma igreja com tanta riqueza. Merecia um trabalho de museologia mais bem elaborado. Ainda relatarei a visita a muitas igrejas por aqui, e não vou ficar me repetindo, mas o fato é que a maioria delas padece do mesmo problema.

"Urna do Santíssimo". Tá escrito ali. À mão. Pitoresco ou tosco mesmo?

Ao saírmos do complexo pegamos novamente o metrô, descemos na Estação Uruguaiana e fomos a pé até o:

Museu de Arte do Rio (MAR)

Já impressiona pelo prédio. Ou melhor, pelos prédios. São dois, um antigo e um moderno, interligados por uma passarela suspensa. O mais antigo é usado mais para a parte administrativa, enquanto o outro abriga as salas de exposição. Neste, são ao todo seis andares, sendo quatro deles dedicados à exposições temporárias, uma delas apenas com o Rio como tema, e sempre de muita qualidade. Ao menos foi este o caso em nossa visita.

Tudo começa no sexto andar, onde dá para se ter uma boa visão da zona portuária do Rio, que no momento de nossa passagem estava uma zona mesmo, por conta de obras de revitalização com vistas às Olímpiadas de 2016. Inclusive deu pra ver o esqueleto do esperado Museu do Amanhã, que tem projeto do arquiteto-celebridade espanhol Santiago Calatrava, e que deve ser inaugurado ainda este ano.


Obras do Museu do Amanhã, que não inaugura amanhã

No momento de nossa visita, tivemos a oportunidade de conhecer uma mostra chamada "Do valongo à favela", no andar dedicado ao Rio de Janeiro. O nome faz referência ao Cais do Valongo, entrada principal do comércio de escravos na região portuária, e tenta traçar uma relação de causa e consequência com as favelas de hoje em dia, através de fotos, quadros, instalações e áudios. Claro que o objetivo é alcançado, porque é impossível dissociar uma coisa da outra. As favelas, que são a maior mazela da cidade, tem uma causa clara, que foi o massacre e a marginalização da população negra durante e após a escravidão. Hoje o problema é ainda mais complexo. 

Fê em uma das salas de exposição

Também durante nossa visita estava rolando uma mostra sobre o pintor mineiro Guignard, outra do artista Marcos Chaves com fotos inusitadas do Rio de Janeiro, uma com parte do acervo do Museu do Homem do Nordeste, no Recife, e uma última chamada "Zona de Poesia Árida" com vários trabalhos de coletivos paulistas focados em uma arte de protesto. Nesta última havia um painel que pedia a "descatralização" da vida, ou seja, que as catracas como símbolo de controle fossem abolidas. Curioso notar, como bem o fez a Chris, que o próprio MAR tem catracas para entrar e para sair...

Bora descatralizar?

Saímos do MAR e fomos andando pelo centro do Rio até chegarmos ao:

Mosteiro de São Bento

Não demos muita sorte, porque a igreja Nossa Senhora de Montserrat, anexa a ele, estava fechada para restauro. Uma pena, porque já tínhamos lido que é uma das mais bonitas do Rio.

Pelo menos vimos como fica uma igreja em restauro

Sorte nossa que por ali não faltam igrejas belas, portanto seguimos pela Rua 1º de Marcço até chegarmos à:

Igreja da Nossa Senhora da Candelária

Infelizmente esta igreja ficou famosa por um fato triste, a chamada "Chacina da Candelária", quando oito menores de idade foram assassinados pela polícia na pracinha em frente a ela. Mas eu disse pra Chris e repito aqui: é provavelmente a igreja mais bonita que já visitei. Seu interior é imponente, com as cúpulas no teto dando uma impressão de magnitude ainda maior. Há detalhes em mármore em todo seu interior, e não há um lugar pra onde se olhe em que não haja um cuidade estético. 

Míseras fotos, não captam o que é este lugar

Depois de tanta beleza, continuamos caminhando pelas ruas centrais da cidade, parando aqui e ali para obervar algum prédio histórico, como o Centro Cultural Banco do Brasil e a:

Igreja da Irmandade da Santa Cruz dos Militares

Não tínhamos lido sobre ela em nenhum guia, mas fomos entrando, e é lindíssima. As igrejas do Rio, além de belas, estão sempre abertas, o que é uma benção, literalmente. É tanto lugar que a gente já foi cheio de frescura com horário que é uma maravilha encontrá-las sempre disponíveis.

Se tá aberta, a gente entra

De tanto andar nos deu fome e nos dirigimos ao:

Restaurante Rio Minho

Fundado em 1884, é o restaurante mais antigo do Rio de Janeiro ainda em atividade. Uma vez lá dentro, a impressão é mesmo de um lugar que parou no tempo, com atendimento e decoração à moda antiga. Mas os preços são bem modernos. Comemos uma meia porção da famosa sopa Leão Veloso, que foi criada ali, e que nos custou R$ 123. Trata-se de um caldo de frutos do mar delicioso, com camarão, polvo, lula e peixe, cuja receita foi trazida e adaptada ao Brasil pelo embaixador Leão Veloso, que frequentava o lugar. Chris, que não gosta de polvo nem de lula, me transferiu os seus, e claro que acabou não gostando tanto quanto eu.

Chris pescando lulas

De barriga cheia, fomos conhecer mais algumas igrejinhas ali no centro, começando pela:

Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo

Com esse nome gigantesco, uma igreja não tão grande assim, mas com uma beleza peculiar, por conta de suas cores mais sóbrias, pendendo para um marrom claro, o que é raro de se ver. Pena que fica em uma rua extremamente movimentada, e não tem portas de vedação, o que faz com haja bastante fuligem em suas paredes e ornamentos.

De longe não dá pra ver a fuligem, só a beleza

A igreja acima, da ordem terceira, foi construída pelos leigos católicos, ou seja, pessoas de fora da igreja que tinham adoração pela santa em questão. Em seguida visitamos, coladinha a ela, a:

Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé

Pode ser considerada uma das igrejas mais importantes do Brasil, já que após a independência se tornou Capela Imperial, tendo sido o local das sagrações de D. Pedro I e II como imperadores, bem como do casamento de Princesa Isabel e Conde D´Eu. Seu belíssimo interior branco com detalhes em dourado convida à contemplação. No subsolo estão os restos mortais de ninguém mais ninguém menos do que Pedro Álvares Cabral, e no Museu de Arte Sacra anexo está a pia batismal dos filhos da Princesa Isabel.

Branco e dourado vão muito bem juntos

As duas lado a lado: à direita a da Ordem Terceira, e à esquerda a da Antiga Sé

Em frente à igreja está a:

Praça XV de Novembro

Esta praça era o local de desembarque no Rio de Janeiro na época do Brasil colonial e imperial. No centro dela está localizada a estátua do General Osório, um dos heróis da Guerra do Paraguai. A praça também abriga o Paço Imperial, que visitaríamos apenas mais pra frente na viagem.


Chris na Praça XV

A uma boa caminhada a pé dali, chegamos ao:

Museu Histórico Nacional

Chegamos ao museu por volta das 15h30, e ele se fecharia às 17h30. Fizemos o passeio com audioguia, um sistema em que o visitante recebe um aparelho com fones de ouvido e pode ouvir explicações, mediante a digitação de um código, durante o passeio. Embora o sistema funcione direitinho, em alguns lugares é difícil enxergar os códigos correspondentes às explicações.

O museu se propõe a dar um panorama completo da história do Brasil, desde sua "descoberta" até o passado recente. E atinge este intento. O acervo chega a ser aburdo. Vejamos algumas das preciosidades: uma moeda portuguesa cunhada em 1499, a mesa onde foi discutida a 1ª constituição brasileira, dois tronos que foram usados por D. Pedro II, objetos pessoais da Princesa Isabel, a grade da sacada onde D. Pedro I fez o discurso do Dia do Fico, um vestido de Maria Bonita, supostos pedaços da forca de Tiradentes, o fabuloso quadro "Combate Naval do Riachuelo" de Victor Meirelles, uma coleção de carruagens e carros antigos, entre muitas e muitas e muitas outras coisas. As duas horas de que dispusemos foram poucas para tudo que o museu guarda, e cheguei a brigar com os funcionários porque começaram a apagar as luzes quando ainda faltavam dez minutos para o fechamento do lugar. Pra quem gosta de história, é pra se gastar um dia inteiro.  


Chris e a carruagem antes de virar abóbora

Não há certeza, mas podem ser pedaços da forca de Tiradentes

Com certeza é a grade em que D. Pedro I se apoiou para dizer ao povo que ficaria, para felicidade geral da nação

Princesa Chris e um dos tronos de D. Pedro II

Voltamos ao apê, e depois de algum descanso, saímos para jantar no:

Fasano Al Mare

Esta experiência está relatada com detalhes (ambiente, avaliação, preço, etc) em nosso outro blog, que pode ser acessado aqui

3º Dia: Praias de Ipanema e Leblon

Acordamos cedinho, por volta de 7h30, e caminhamos por 5 minutos até chegar à:

Praia de Ipanema

Ali nos instalamos bem próximos à Barraca do Nando. Alugamos cadeiras e guarda-sol e ficamos aproveitando o belíssimo dia de céu azul. Como tínhamos acabado de tomar café, ficamos boa parte do tempo sem comer nem beber nada. Depois de umas duas ou três horas é que fui pegar um cervejinha (R$ 6,00 a latinha). O mar por ali é bem gelado, na temperatura de uma cachoeira, mas é claro que eu dei o meu tchibum. Chris se absteve.

Há muitas barracas na areia, mas sem estrutura, só servem bebidas e fazem o aluguel das cadeiras, além de disponibilizar uma ducha. No calçadão há quiosques de alvenaria, mas são tão pequenos que não cabe nem um fogão, portanto não espere porções ou coisa parecida. Mas todos possuem mesas, cadeiras e guarda-sóis. De qualquer maneira, acho difícil conceber uma praia no Brasil em que não se possa comer uma porção de camarão, a não ser que seja uma praia deserta, ou coisa parecida.


Chris e ao fundo o Morro Dois Irmãos e a Favela do Vidigal

Levantamos acampamento e seguimos andando pelo calçadão em direção à:

Praia do Leblon

É como se fosse uma extensão de Ipanema. A divisão entre as duas praias, e consequentemente os dois barros, se dá pelo parque Jardim de Alá, que fica na divisa entre os dois. Caminhamos por cerca de 3km até chegar bem pertinho do Posto 12, já quase no fim da praia. Caminhada tranquila e agradável, tendo sempre o Morro Dois Irmãos à nossa frente, e passando por ícones cariocas, como o Hotel Marina e as inúmeras partidas de futevôlei. Na ciclovia, muita motimentação de ciclistas, corredores e skatistas. Línguas estrangeiras são ouvidas o tempo todo. Para amenizar o calor, em cada posto há um "refrescador" (acabei de batizar) que borrifa água geladinha mediante um simples aperto de botão. Delícia. 

O Hotel Marina, aquele mesmo que "quando acende não é por nós dois, nem lembra o nosso amor"

No Leblon não chegamos a ficar na areia, apenas escolhemos um dos quiosques do calçadão para comer alguma coisa. Acho que não escolhemos muito bem. Como já dito, os estabelecimentos são diminutos, não há fogão, então a opção que havia era uma merda de porção de bolinhos feita naquela bosta de frigideira sem óleo. Provavelmente uma das piores coisas que já ingerimos na vida. Custou 25 paus, e tomamos também duas Itaipava (R$ 5,00 cada) pra ajudar a engolir.

Frigideira sem óleo? Introduza onde preferir...

A conclusão é que Ipanema e Leblon não são as praias ideais para curtir um dia inteiro, porque as opções de comida não ajudam. Mas é claro que a visita é obrigatória.

Neste dia acabamos não fazendo mais nada de muito relevante, apenas batemos perna pelo bairro, e tomamos um chope no:


Boteco Belmonte

Existe desde 1952, e tem mesas e cadeiras bem altas na calçada. Tem várias filiais pelo Rio, esta que visitamos fica ao lado da Praça General Osório. Chris comeu uma empada de camarão, e eu um pastel de queijo brie com alho poró.

Aquele bebum da esquerda passa por carioca?

A noite foi encerrada com um risoto de limão siciliano com bife de filé mignon, feitos por este que vos escreve em nosso belo e aconhegante apartamento.

Cozinho mérmo, brow

Garfo e faca "combinandinhos"

4º Dia: Mais centro do rio, Ilha Fiscal e Lapa

Sem nem tomar café em casa, pegamos o metrô, descemos na Estação Carioca e andamos até a:

Confeitaria Colombo

Muito mais do que uma confeitaria, é um ponto turístico estabelecido da cidade. Prova disso é que antes mesmo de abrir já havia cerca de 50 pessoas do lado de fora, a maioria com cara de turista. Quando as portas de ferro se levantaram, parecíamos todos como gado indo ao matadouro. O efeito manada acabou nos levando ao bufê ao invés do à la carte, mas não havia mais como voltar atrás, dada a quantidade de gente em nosso calcanhares. No bufê o sistema é parecido com o dos hotéis, com boa quantidade de opções (bolos, frutas, pães, frios, etc), e com os garçons passando sempre nas mesas para oferecer café, chocolate e torrada com ovos. Eu me servi umas três vezes, pra fazer valer, porque já sabia que a conta não seria bolinho. Eu estava certo: 43 paus por pessoa.

Além da boa comida, o prédio - de 1894 - é lindo, com sua decoração art noveau e seus espelhos gigantes nas paredes, dando a impressão de ser ainda maior. Difícil sair dali sem comprar algum souvenir entre as muitas opções disponíveis.


É tudo assim tão art noveau, tão pura beleza

Chris e os gigantes espelhos

Saímos da confeitaria e pegamos a Avenida Rio Branco, onde caminhamos a pé até o magnífico:

Theatro Municipal

Ali fizemos a visita guiada, que custa dez reais por pessoa. Dura cerca de cinquenta minutos e é bem detalhada. Passa pela lindíssima entrada do teatro, varanda, pelo antigo restaurante (hoje sala de espera) e, claro, pela sala de espetáculos. Um guia acompanha todo o passeio, passando muitas informações. Uma das mais interessantes foi o fato de ter havido um concurso para a escolha do projeto do teatro, e o filho do prefeito ter ficado entre os finalistas, junto com um francês. O caso gerou certa comoção e polêmica, e a solução foi os dois trabalharem juntos na concepção do projeto. Devo dizer que esta parece ter sido uma excelente escolha, dada a beleza do lugar. Vale lembrar que o teatro está em atividade, portanto há a chance de se assistir a algum show ali, o que deve ser maravilhoso. Eu e Chris não tivemos esta sorte. 

Lindo como ele só, por fora...

...e por dentro também

Chris se lembrando de quando dançou balé naquele palco. Isto é fato! Chique, não?

Do teatro pegamos um táxi até o Museu Naval, não para conhecê-lo, mas porque é de lá que sairia o passeio para a:

Ilha Fiscal

Este passeio é tradicionalmente feito de escuna mas, por conta de todas as obras na zona portuária, estava sendo feito em um ônibus quando lá estivemos. Para chegar até a ilha passamos por um pequeno trecho de mar aterrado, no meio de vários navios de guerra da marinha.

A ilha era usada como posto fiscal na época do império, por conta de sua posição privilegiada na entrada a Baía de Guanabara, já que todos os navios tinham que passar por ali para chegar ao porto. A ilha já seria uma atração por si só por conta da arquitetura do posto fiscal, semelhante à de uma catedral medieval. Mas ganhou um significado extra quando ali foi realizado o que ficou conhecido como o último baile do Império, festa que se deu em 09 de novembro de 1889. Para quem não se lembra das aulas, a República foi proclamada apenas seis dias depois. Alheio a este fato por não possuir poderes paranormais, D. Pedro II organizou ali uma festa que reuniu toda a nata da sociedade brasileira, em homenagem aos oficiais do navio chileno "Almirante Cochrane", que estavam no país, e também para celebrar as bodas de prata da Princesa Isabel e do Conde D´Eu. A exuberância e ostentação da festa consumiram 10% do orçamento previsto para o Rio de Janeiro no ano seguinte.

O passeio é todo guiado, e no nosso caso muito bem guiado. A guia era simpática, comunicativa, espontânea e sempre aberta a perguntas. O ponto alto se dá em uma das salas, quando uma tela vertical nos mostra um vídeo em que uma atriz se passa por uma das convidadas do baile, e nos conta em primeira mão todas as fofocas da festa. Muito interessante e bem feito. O passeio todo custa R$ 20 por pessoa.


O palácio da Ilha Fiscal, e a Chris tá dentro daquele bagulhete ali, viu?

À esquerda, a tela onde é passado o vídeo com as quentinhas da festa

Na sequência seguimos a pé até o:

Museu Nacional de Belas Artes

O acervo do museu foca principalmente na arte brasileira do século XIX. E é absolutamente imperdível. Quase todos aqueles quadros que aparecem nos livros de História que estudamos na escola estão aqui. Mesmo que você não se lembre deles a princípio, vai se lembrar quando passar pelos quadros. A menos que tenha sido um estudante muito relapso. Aqui está por exemplo o quadro "A Primeira Missa no Brasil", de Victor Meirelles. Mas os mais impressionantes são "A Batalha dos Guararapes", também de Victor Meirelles, que mostra uma importante batalha para expulsão dos holandeses acontecida em Pernambuco, e "A Batalha do Avaí", de Pedro Américo, que mostra uma das batalhas da Guerra do Paraguai. Ambos são gigantescos e repletos de detalhes. Mas há muito mais a se ver por aqui, inclusive artistas mais modernos, como Portinari, Tarsilla do Amaral e Di Cavalcanti, na ala dedicada ao século XX.

Chris com "A Batalha dos Guararapes"

Fê com "A Batalha do Avaí"

Fê com "A Primeira Missa no Brasil"


Em seguida pegamos o táxi mais desnecessário de nossas vidas, porque a distância era ridícula, para ir até o:

Bairro da Lapa

Não dá pra ir embora do Rio sem tirar ao menos uma foto em frente aos Arcos da Lapa, que antigamente eram um aqueduto, depois se transformaram em via de passagem do bonde, e hoje são...bem, hoje são apenas um lugar pra se tirar belas fotos, função mais do que nobre. É daquelas imagens que fazem parte do imaginário até de quem nunca foi pro Rio. O bairro é animadíssimo, e extremamente musical. Em frente ao bar Sarau Brasil, com samba ao vivo, fica o lendário Circo Voador, templo do rock brasileiro, e que naquela noite receberia a Pitty. Prova do ecletismo e do espírito democrático do bairro.

Uma selfie com os arcos...

...que ficam bem mais bonitos à noite.

Uma das razões para nossa visita à Lapa era passear na:

Feira do Rio Antigo

A feira acontece no primeiro sábado de cada mês, na Rua do Lavradio. São dezenas de barracas vendendo artigos antigos (discos, enfeites, rádios, etc), mas também artesanato, camisetas, quadros, bolsas e muito mais. Além disso há muitos antiquários no decorrer da rua, que começaram a tradição da feira quando expunham seus acervos na calçada aos finais de semana.

A feira é um caos maravilhoso. Um formigueiro humano, mas cheio de paz, com muitos artistas de rua, estátuas humanas, além de músicos de todo tipo, de hare krishnas a cantoras de jazz. E tudo misturado, sem muita distância entre si, cada um disputando seu espaço e tentando chamar a atenção. Embora cansados, percorremos a feira inteira, talvez energizados pelos seus participantes.


Chris tentando caminhar, e os hare krishna fazendo seu som

Para o jantar, nosso objetivo era um bar-restaurante ali na Lapa mesmo, praticamente uma instituição carioca chamada:

Cosmopolita

Quem nunca viu em algum cardápio o prato Filé à Oswaldo Aranha? Pois é, ele foi criado neste bar, que existe desde 1926. Nos anos 1930, Oswaldo Aranha era o ministro da Fazenda, e frequentava o bar, que era chamado de "Senadinho", por conta de tantos políticos que por ali passavam. Ele gostava de pedir um bife alto, coberto com alho frito e acompanhado de arroz, farofa e batata portuguesa. A receita ficou com seu nome, e hoje é um clássico da gastronomia brasileira.

O restaurante parece estar ainda em 1930, assim como o Rio Minho, onde almoçamos no outro dia. Começamos a tomar umas cervejas do lado de fora do bar, mas começou a chover e fomos para dentro. Ali, apenas uma mesa além da nossa estava ocupada, por uma turma de professores. E assim se manteve durante as quase três horas que lá ficamos. Claro que pedimos o filé à Oswaldo Aranha para duas pessoas (R$ 89,00), que demorou bastante para chegar à mesa. Mas passamos um tempo agradável tomando cerveja Original, mesmo com algumas goteiras que molharam um pouco o chão do lugar. Quanto ao filé, vem em uma travessa, em quantidade bastante farta. É uma comida seca, quanto a isso não resta dúvida. Os bifes poderiam ser um pouco mais macios, o ponto da Chris, que era mal-passado, não estava perfeito, e a apresentação não era grandes coisas. Mas tudo é muito saboroso, e no fim isso é o que mais importa.


Este na foto é o Oswaldinho

E este é o prato que o homenageia

Voltamos de táxi da Lapa até Ipanema, o que nos custou R$ 30. O taxista era falante que só ele, e chegou a contar até de uma vez em que foi assaltado e, com o bandido ao seu lado com uma arma apontada, disparou o carro que nem louco, sabendo que ele não teria coragem de atirar com o carro em alta velocidade. Por sorte um policial os parou e prendeu o meliante. Ele disse que não bateu no cara algemado porque seria covardia, mas que riu bastante da cara dele. Se o caso é verídico ou não, pouco importa, mas o fato é que ficamos totalmente entretetidos. Foi uma excelente maneira de terminar o dia, ouvindo as histórias de um carioca genuíno.

(Continua no próximo capítulo)

























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